CONCLUSÕES
A meio da ponte rumo ao futuro é o lema o X Congresso da Associação de Imprensa de Inspiração Cristã (AIC) que decorreu no Convento dos Capuchos, em Almada, entre os dias 26 e 28 de outubro de 2017, que se enquadrou nas comemorações dos 25 anos da fundação da Associação.
O congresso colheu o imaginário da ponte o itinerário para os debates que propôs aos participantes. Primeiro, para identificar a relevância da imprensa regional, nomeadamente a de inspiração cristã, ao longo da História; depois para avaliar a tensão em curso em muitos títulos, nomeadamente entre o papel e o pixel, o impresso e o digital; indicando, num terceiro momento, que modelo empresarial e editorial deve ser assumido pelos títulos da AIC, no contexto atual.
- Comunicação: uma marca do cristianismo
E o verbo fez-se digital” nestes novos tempos da comunicação. “A Igreja não deve ter medo de comunicar”, lembrou José Ornelas, bispo de Setúbal, na abertura do Congresso, acrescentando que comunicar “é pôr-se numa arena feroz, e tantas vezes selvagem. Daí o medo de muitos, na Igreja, de expor-se deste modo. Mas é determinante estar presente, com transparência e coerência”.
- Do lado de cá
“Se Jesus Cristo vivesse hoje teria Facebook” defendeu o jornalista da agência Lusa Paulo Agostinho, que referiu ainda que a imprensa de inspiração cristã “não é um modelo de negócio” e representa títulos que dão primazia à opinião, identificando-se dessa forma com tendências editoriais da atualidade. Um dos títulos centenários que perdura no tempo é o Amigo do Povo. Um bom sinal de longevidade e de presença do jornalismo de proximidade, exemplo apresentado pelo seu diretor, padre Jesus Ramos. Ainda durante o primeiro painel o padre Adelino Ascenso, presidente dos IMAG, diante do mandato bíblico “ide e anunciai”, sublinhou a necessidade de dizer também “ide e silenciai”, “ide e escutai”, “ide e aprendei”, “ide e acompanhai”, “ide e estai com”. Sugere, ainda, que é necessário “repensar o paradigma da missão”, a narrar nos media de “forma convincente”.
- A meio da ponte…
“A imprensa de inspiração cristã tem como target o público mais ‘sexy’ que há na sociedade”, ou seja, os próximos anos vão ser das gerações com 60 e 70 anos, “o público alvo dos títulos da AIC” defendeu Carlos Liz, especialista em estudos de mercado. Ainda durante o segundo painel, foi apresentado o projeto de desenvolvimento tecnológico do Diário do Minho, que terá nos próximos dias um novo portal online com imagem renovada e linguagem atualizada. “Não se pode ficar parado”, disse o seu diretor, Damião Pereira, afirmando a necessidade de investimentos no setor por parte dos responsáveis da Igreja Católica.
- Para o lado de lá…
“Juntos somos mais fortes, não apenas para reivindicar apoios”, mas para unir esforços defendeu Pedro Jerónimo, professor universitário, que quer ver jornalistas e meios de inspiração cristã “a partilhar conteúdos” e com uma presença mais forte nos meios digitais.
Graça Franco, diretora de informação da Rádio Renascença, gostava de “romper com a tradicional notícia” estereotipada da religião católica; “assumir a diferença, ter carinho pelo nosso público, que na febre de informar muitas vezes é esquecido. Alertou para o “New age”, para a descristianização e ignorância; defendeu “boas histórias com valores humanos” e citou o papa Francisco na necessidade de ter “os pés assentes na terra”.
“Globalização dos negócios leva a uma regeneração dos meios e dos títulos que se pretende simples e ágil”, defende Jorge Saraiva, administrador do Notícias da Covilhã, tendo em conta “Valor sem uso é desperdício”; “Acesso é mais importante do que a propriedade”; e “Modéstia em excesso é pecado”.
- Modelos editoriais e empresariais para a Imprensa de inspiração cristã
“Conteúdos com vida própria e independentes entre si” são defendidos por Eduardo Cintra Torres, professor universitário, que indicou “táticas de captação de leitores, como por exemplo a construção de títulos motivadores”. O professor sugeriu um “agregador comum” e perguntou se “pode a associação ser um agregador, por exemplo, de publicidade e de conteúdos”. Terminou com a afirmação: “Se há ameaças na internet, também há oportunidades”.
Sessão comemorativa dos 25 anos da AIC e de encerramento do X Congresso,
Nuno Brás, bispo da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais, defendeu a ideia que “é preciso tomar ações para nos levarem a sério”. Ainda segundo Nuno Brás temos de trazer a comunicação regional para a ribalta, assim como a mensagem da fé cristã. “Temos de aceitar que somos meios diferentes e assumir a comunicação como tarefa. Mais importante que a notícia é a comunicação em si. As pessoas comunicarem entre elas é a tarefa mais importante da nossa realidade e não só não devemos ter medo dessa realidade, como devemos exigir esta especificidade”.
O presidente da AIC, Elísio Assunção, exigiu que a ERC “tenha outro comportamento, que tenha um papel de aconselhamento e não de obstrução à vida dos meios de comunicação cristã”, nomeadamente em termos de classificação de meios. “É tempo para arregaçar as mangas”, desafiou Elísio Assunção.